USO DE MACONHA E TRANSTORNOS MENTAIS EM JOVENS

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O uso da maconha aumentou significativamente no início dos anos 90, com isso, muitos jovens de países desenvolvidos como: Estados Unidos, Grã-Bretanha, Nova Zelândia e Austrália, passaram a utilizar a maconha recreacionalmente sob o argumento de que esta "não faz mal". Apesar da alta prevalência do uso da maconha, ainda persistem dúvidas quanto suas consequências físicas e psicológicas. Há evidências clínicas de que o cannabis tem uma forte associação com transtornos mentais. O consumo intenso da maconha parece desencadear episódios psicóticos e em alguns casos, desencadear quadros psicóticos persistentes. Há também evidências de um aumento da associação entre uso de cannabis e transtornos depressivos e ansiosos. Os usuários crônicos de maconha referem, com frequência, altos níveis de ansiedade, depressão, fatiga e desmotivação. Permanecem algumas perguntas quanto a associação do cannabis aos transtornos depressivos e ansiosos, assim como, em relação ao mecanismo implicado. Sintomas depressivos ou ansiosos pré-existentes fariam com que o indivíduo utilizasse o cannabis como forma de amenizar estes sintomas? O uso de maconha é mais comum em indivíduos com histórico de dificuldades sociais, problemas familiares ou outras características particulares (fatores que aumentam o risco para transtornos mentais)? O cannabis, por si só, predisporia ao risco de depressão e ansiedade? No presente trabalho foram avaliados os riscos para o desenvolvimento de depressão e ansiedade associado ao uso de cannabis na adolescência. O estudo se apoiou, especificamente, em 3 questões: 1. O uso de cannabis na adolescência predispõe ao desenvolvimento de sintomas ansiosos e depressivos em adultos jovens? 2. Os sintomas depressivos e ansiosos presentes na adolescência poderiam levar ao uso de cannabis em adultos jovens? 3. O uso de maconha pode ser justificado por antecedentes familiares ou uso de outras substâncias? Entre agosto de 1992 e dezembro de 1998 foi realizado um estudo de coorte em adolescentes australianos, ou seja, os jovens foram acompanhados ao longo do tempo e observados quanto ao aparecimento de sintomas depressivos ou ansiosos ou uso de cannabis. A coorte foi constituída de 2 grupos de alunos e conduzida em 7 etapas. Os dois grupos foram selecionados randomicamente (aleatoriamente) de 44 escolas, tanto católicas, particulares ou públicas, com um total de 60.905 alunos. Uma classe de cada escola entrou para o estudo no 9º ano escolar (etapa 1) e após 6 meses, uma classe de cada escola entrou para o estudo no 10º ano escolar (etapa 2). Os participantes foram reavaliados semestralmente nos próximos 2 anos (etapas 3, 4, 5 e 6) com uma reavaliação final 3 anos após a conclusão escolar (etapa 7). Da 1ª à 6ª etapa, os participantes responderam questionários de autoavaliação e àqueles que faltaram no dia da avaliação foram entrevistados por telefone. A 7ª etapa de coleta de dados foi realizada por telefone com base em questionários computadorizados. De um total de 2032 estudantes, 1947 (95,8%) participou do estudo pelo menos uma vez nas primeiras 6 etapas. Na 7ª etapa, foram entrevistados 1601 adultos jovens de abril a dezembro de 1998. As razões para não completar o questionário foram: • Recusas - 152 • Perda de contato - 192 • Falecimento - 2 A idade média na etapa 1 foi de 14,5 anos e na etapa 7 foi de 20.6. Dos 1601 participantes na última etapa, 1130 (71%) continuavam residindo na casa dos pais, 429 (27%) morando com outros, e 42 (3%) morando sozinhos, 1345 indivíduos (82%) completaram o último na escolar e 1355 (85%) iniciaram faculdade. No Brasil, os índices de conclusão do ensino médio são bem menores, assim como, o número de jovens que ingressam nas universidades. Dada a dificuldade em se conseguir uma vaga nas instituições públicas e às mensalidade abusivas das faculdades particulares, muitos seguem diretamente para o mercado de trabalho para ocupar cargos de menor qualificação e remuneração. Instrumentos utilizados no estudo O CIS-R (Computerised Revised Clinical Interview) foi utilizado para avaliar sintomas depressivos e ansiosos em cada etapa do estudo. Este instrumento é amplamente utilizado em estudos populacionais, e permite avaliar frequência, persistência e gravidade dos sintomas psiquiátricos. A obtenção de um escore >= a 12 definiu estado misto depressivo e ansioso, ou seja, não é um escore suficiente para se determinar um transtorno depressivo maior nem transtorno ansioso, porém suficiente para iniciar uma intervenção clínica. O uso de cannabis foi avaliado nos últimos doze meses da 1ª a 6ª etapa, na 7ª etapa, o uso de cannabis foi avaliado nos últimos seis meses, o que permitiu uma classificação nunca antes utilizada: • Nunca utilizou • Utilizou menos de uma vez por semana • Utilizou pelo menos uma vez por semana • Uso diário (cinco ou mais dias por semana) • Início após a 6ª etapa Foram também avaliados uso de álcool, tabaco e outras drogas ilícitas (incluindo ecstasy, heroína, LSD e esteróides). O comportamento antissocial foi avaliado utilizando-se itens da escala de delinquência. Resultados • 71 (9,7%) homens e 188 (22%) mulheres referiram depressão e ansiedade enquanto adultos jovens. • 60% dos homens e 52% das mulheres referiram ter utilizado maconha pelo menos uma vez na vida (3/4 destes utilizaram pela 1a. vez na adolescência). • 20% dos homens e 8% das mulheres referiram fumar maconha semanalmente, sendo que 10% dos homens e 4% das mulheres jovens utilizavam a droga diariamente. Cannabis e depressão em adultos jovens • A prevalência de depressão e ansiedade aumentaram com a persistência do uso do cannabis, mas este padrão foi mais evidente no sexo feminino. • Houve uma interação significativa entre sexo e uso diário de maconha, as mulheres jovens que utilizaram cannabis diariamente apresentaram 5 vezes mais transtornos depressivos e ansiosos do que mulheres não usuárias de maconha. Uso de Cannabis na adolescência e depressão em adultos jovens Mulheres adolescentes que fizeram uso diário de cannabis apresentaram quatro vezes mais depressão e ansiedade na vida adulta. Quando este uso foi semanal a chance foi duas vezes maior. A interação entre sexo e uso semanal ou mais frequente foi significativo. Depressão na adolescência e uso de cannabis em adultos jovens Transtornos depressivos e ansiosos na adolescência não demonstraram aumentar a chance de uso de cannabis na vida adulta. Discussão Aproximadamente 60% dos alunos australianos do ensino médio experimentou ou utilizou cannabis recreacionalmente até o início da vida adulta. Durante a vida adulta, aproximadamente 7% da amostra continuou fumando maconha diariamente e as mulheres adultas jovens usuárias de maconha apresentaram índices de depressão e ansiedade cinco vezes maior do que mulheres não usuárias. O uso semanal de cannabis em adolescentes do sexo feminino aumentou em duas vezes a chance de desenvolver depressão ou ansiedade no início da vida adulta, enquanto que o uso diário na adolescência aumentou esta chance em quatro vezes. O diagnóstico de depressão na adolescência não esteve associado a um uso posterior de cannabis. Possíveis explicações para os altos índices de depressão e ansiedade encontrados nas mulheres jovens que utilizaram cannabis incluem: 1. Características individuais que predispõe tanto depressão quanto ansiedade. 2. A droga é utilizada como uma tentativa de se diminuir os sintomas depressivos pré-existentes. 3. Sintomas depressivos ou ansiosos aparecem como efeitos adversos da maconha sobre o sistema nervosos central. No presente estudo, a associação entre depressão e ansiedade e uso de cannabis persistiu mesmo após o ajuste estatístico para uso concomitante de álcool, tabaco e outras substâncias ilícitas. Muito embora o cannabis tenha sido utilizado para diminuir ou amenizar sintomas depressivos, não houve qualquer relação entre transtornos depressivos e ansiosos na adolescência e uso posterior de maconha. Foram testados vários modelos estatísticos neste estudo e todos demonstraram que o uso frequente de cannabis na adolescência aumenta o risco de desenvolver depressão e ansiedade posteriormente. O uso de cannabis em jovens continua sendo um tema controverso, além do que necessitamos de mais estudos na área que sustentem uma política de saúde mental racional. Os achados deste estudo evidenciam que o uso frequente de cannabis pode estar associado a efeitos deletérios na saúde mental além do risco de uma manifestação psicótica. Estratégias que reduzam o uso frequente de cannabis poderiam reduzir os índices de transtornos mentais em jovens, além de atenuar consequências sociais como prejuízo educacional, desemprego e criminalidade. Fonte: Álcool e Drogas sem Distorção http://www.antidrogas.com.br/mostraartigo.php?c=167&msg=Uso%20de%20maconha%20e%20transtornos%20mentais%20em%20jovens

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